sábado, 19 de março de 2016

Dos contrastes,redenção e o não querer.




A capacidade de amar quem nos odeia e odiar quem nos ama talvez seja a mais humana possível: denuncia uma vontade de aceitação insaciável e a capacidade de destilar ódio em qualquer recipiente.O inferno é o merecido por quem fez mal ou até quem meramente não merece,e a única opção na mesa não é nenhum dos nove infernos concêntricos metafísicos,e sim o inferno que se vivencia diariamente enquanto o organismo ainda respira.É de bom grado engolido o desejo de morte pelo desejo que a pessoa desfrute da amarga longevidade,e prove a cada dia o caos materialista,de forma democrática -familiares,amigos,amantes-não há quem escape.A família goza de um merecimento amplificado,já que o sangue que une também é o sangue que afasta.Mas a entrega total é para o amante,e por mais pessimista que seja,um dia as memorias ruins fazem sombra sobre as boas e o mais difícil de se odiar se torna ,enfim,possível.

Alugaria um trem para que todos fossem para o inferno;ou melhor,permanecessem por aqui e eu subisse a bordo do trem:um único passageiro em fuga.

É exatamente por ser capaz de odiar quem o ama,que o homem sofre de amor por quem o odeia;sacrifício equivalente.De mendicância de amor minha experiência também possui corpo e sustância.Não é a intenção minha chorar sobre uma folha,e sim expor assunto universal que pouco se fala e muito se sente.A solidão infindável é avolumada pelo querer de quem nos quer muito distante(quem sabe até a bordo de um trem).
Ódio,amor e solidão:a tripartição da alma humana,com a peculiaridade de que é o amor quem nos deixa continuar apesar dos outros dois.
A primeira experiência de amar alguém que do outro lado apenas nutre ódio é sempre a mais impactante,e é carregada para os relacionamentos vindouros-uma bomba relógio desarmada apenas com o primeiro beijo,a primeira transa,ou que nunca é desarmada-.As sucessivas experiências desse tipo de relacionamento são todas reflexo da primeira,talhada na alma e nunca curada.

Apesar disso,continuo amando como vários que ainda não se perderam no caminho;juntos somos os que percebemos a redenção contida no ato de nutrir afeto,ato revolucionário e perigoso que é tão mais gostoso conforme mais alheio à razão.

domingo, 6 de março de 2016

Mitologia fatalista


Acorrentado por anos
a sentença é decisiva:
subjugar o corpo,
retalhar a mente.

A existência punida,
sem sentido perguntar:
nenhuma razão esclarecida
e a luta não possui cessar.


Os fracos e enfermos profetas 
e suas mil e uma distrações
se prostram em minhas retas,
refletindo a fraqueza dos seus corações.

Nenhuma mitologia
ou metafísica,
só a condução segue
na situação critica.

O prenúncio do seu fim
enfraquece seu reinado
retomando assim
o destino prejudicado.

Verdadeiramente fatal
é a borrada existência
daquele reino animal
desprovido de potência.

Um auto exílio adentrando uma  vida lenta temporariamente necessitada:
é aguardado mais um fim do ciclo lunar 
nos olhos do tigre faminto a antecipar;
e um retorno para uma vida plena -temporariamente suspensa- .