quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Loop





Experimentar uma queda,
uma colisão e uma subida
através de um loop macabro;
todos componentes da vida

Ensinado nessa dança
que corroí esperança,
constrói horror,
arquiteta loucura amor

O implodir não é pensado,
assim como cada loop
estou mudado e atordoado
(O cinismo era esperado)

A realidade transforma a todos;
ressentir é se atrasar;
a repetição nos matará;
finalmente estaremos felizes.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Fascínio

Eu me aproximava do seu trono
de frio e estacas no coração,
nada me importava
além dessa alucinação.

Sob efeitos e sensações,
surpreso por tuas ações.
Bobo assim nunca fui
mas desejei ser.

Embrenhado na selva mística
dos seus cabelos negros,
não pensei na logística
de me entregar aos erros.

Brinco disso há muito tempo;
enquanto finjo me perder
no seu jogo de sombras,
quem se perde por mim é você.

domingo, 5 de junho de 2016

Pecados de uma nova era.


Eu gostaria de ser cego.Uma questão de preferência, e não auto-mutilação.Pessoas vem e vão aos montes,em um piscar de olhos,mas o que fica é um gosto ruim na boca.

Elas vem e vão ininterruptamente,tão rápido que não da para se acostumar.Fui convencido de que se acostumar é um dos grandes males da convivência: está ai na TV,nas peças,filmes,anúncios,música,poemas e gestos.Quem começou com essa ideia é uma incógnita para mim,e o que ganha-se com isso também.Mas ganha-se algo de qualquer coisa,do contrário,para quê o esforço de cria-lá?

Elas vem e vão no ritmo dos dias,das horas...não consigo as aceitar.Era bom no inicio,foi o que me disseram,mas já estou enjoado de não aceitar.Não aceitar está na moda.Odeio moda.

Elas vem e vão,e não ir atrás delas deve ter haver comigo.Será que eu consigo me aceitar?Tenho que ponderar sobre muitas coisas.Temos que ponderar sobre muitas coisas.Mas parece que tal fardo só recai sobre mim.

Elas vem e vão,essas pessoas,e eu gostaria de tomar seus olhos emprestados - ou a força mesmo - e as enxergar.É mais fácil aceitar pra você?Seus olhos fariam ser mais fácil pra mim?

Elas vem e vão,e talvez se eu ficasse cego,as enxergaria de uma forma natural,orgânica,sincera.Ainda existe algo orgânico no mundo?Ou a cultura substitui e industrializa o sentir também?Talvez só o meu sentir esteja errado,e minha vida seja vivida no descompasso.Eu peco.

Posso pegar seus olhos emprestados?A vista vai ser bonita.Eles vem e vão,mas não registram nada.Eles aceitam.

Aceitam?

Eu vou arriscar.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Traduzir

E não tem palavras 
que traduzam
o intraduzível. 

Quando o gritar
é cada vez mais 
necessário,
há o escapar. 

O escapar me vem, 
e de todas as formas, 
sem achar a quem. 

A catarse está ai
sem destino a encontrar. 
Em toda direção, 
estou a jorrar. 

As palavras vão sangrar
do meu interior
e então, sem pudor, 
já não irei mais pensar. 

sábado, 19 de março de 2016

Dos contrastes,redenção e o não querer.




A capacidade de amar quem nos odeia e odiar quem nos ama talvez seja a mais humana possível: denuncia uma vontade de aceitação insaciável e a capacidade de destilar ódio em qualquer recipiente.O inferno é o merecido por quem fez mal ou até quem meramente não merece,e a única opção na mesa não é nenhum dos nove infernos concêntricos metafísicos,e sim o inferno que se vivencia diariamente enquanto o organismo ainda respira.É de bom grado engolido o desejo de morte pelo desejo que a pessoa desfrute da amarga longevidade,e prove a cada dia o caos materialista,de forma democrática -familiares,amigos,amantes-não há quem escape.A família goza de um merecimento amplificado,já que o sangue que une também é o sangue que afasta.Mas a entrega total é para o amante,e por mais pessimista que seja,um dia as memorias ruins fazem sombra sobre as boas e o mais difícil de se odiar se torna ,enfim,possível.

Alugaria um trem para que todos fossem para o inferno;ou melhor,permanecessem por aqui e eu subisse a bordo do trem:um único passageiro em fuga.

É exatamente por ser capaz de odiar quem o ama,que o homem sofre de amor por quem o odeia;sacrifício equivalente.De mendicância de amor minha experiência também possui corpo e sustância.Não é a intenção minha chorar sobre uma folha,e sim expor assunto universal que pouco se fala e muito se sente.A solidão infindável é avolumada pelo querer de quem nos quer muito distante(quem sabe até a bordo de um trem).
Ódio,amor e solidão:a tripartição da alma humana,com a peculiaridade de que é o amor quem nos deixa continuar apesar dos outros dois.
A primeira experiência de amar alguém que do outro lado apenas nutre ódio é sempre a mais impactante,e é carregada para os relacionamentos vindouros-uma bomba relógio desarmada apenas com o primeiro beijo,a primeira transa,ou que nunca é desarmada-.As sucessivas experiências desse tipo de relacionamento são todas reflexo da primeira,talhada na alma e nunca curada.

Apesar disso,continuo amando como vários que ainda não se perderam no caminho;juntos somos os que percebemos a redenção contida no ato de nutrir afeto,ato revolucionário e perigoso que é tão mais gostoso conforme mais alheio à razão.

domingo, 6 de março de 2016

Mitologia fatalista


Acorrentado por anos
a sentença é decisiva:
subjugar o corpo,
retalhar a mente.

A existência punida,
sem sentido perguntar:
nenhuma razão esclarecida
e a luta não possui cessar.


Os fracos e enfermos profetas 
e suas mil e uma distrações
se prostram em minhas retas,
refletindo a fraqueza dos seus corações.

Nenhuma mitologia
ou metafísica,
só a condução segue
na situação critica.

O prenúncio do seu fim
enfraquece seu reinado
retomando assim
o destino prejudicado.

Verdadeiramente fatal
é a borrada existência
daquele reino animal
desprovido de potência.

Um auto exílio adentrando uma  vida lenta temporariamente necessitada:
é aguardado mais um fim do ciclo lunar 
nos olhos do tigre faminto a antecipar;
e um retorno para uma vida plena -temporariamente suspensa- .