sexta-feira, 10 de maio de 2013

Leve ilusão

Eu procurei abrigo.Eu procurei socorro,mas no fim do meu fôlego,nada mais importava.Ou será que nunca importou?De qualquer jeito,lá estava eu,correndo,correndo e correndo.Procurando abrigo nos prédios mais altos e nos mais baixos,mais conservados e mais destruídos.
Os conservados não tinham sido pegos por aquilo tudo ainda.Ou talvez tenham sido pegos,mas se mostravam um pouco mais resistentes,ou pelo menos a área externa.Os mais destruídos realmente não estavam bem.Alguns até que serviam como moradia,pelo menos provisoria,já outros iam cair na sua cabeça.
Não encontrei.Não encontrei nada.Quando meus pulmões estavam queimando e minhas pernas pesando toneladas,já não sabia mais por que corria,ou do que corria.Lembro-me vagamente de que nunca soube ao certo,ou pelo menos não sabia explicar.As ruas sujas e em ruínas junto com os prédios conservados e destruídos davam à cidade o cenário perfeito de desolação.Não era uma simples beleza efêmera (que as vezes pode não ser tão simples assim) mas uma beleza peculiar,algo que poderia ser capturado para sempre e guardado nos confins da mémoria.O tipo de beleza que você não sabe que existe,mas que quando encontra,sabe que estava procurando por ela,exatamente ela,sua vida inteira,sem tirar nem por.Mas também que assustava de tão belo,e tinha suas partes feias,em falta de melhor palavra.Mas era assim toda coisa normal e mortal,ou criada por mortais,não sei bem em qual dos dois a cidade se encaixava.
Que não vinha ajuda eu já tinha percebido a muito tempo,e também que não seria capaz de lidar com isso sozinho.Mas eu corri,e não sei por quê,apenas para atrasar alguns minutos.Apenas para tentar me agarrar a algo,mesmo que seja uma ilusão,uma leve ilusão.
A aceitação já tinha vindo a mim na hora exata.Sempre achei que já tinha aceitado,ao mesmo tempo que achava que devia lutar.Mas esses momentos eram breves momentos em que idéias de todos os tipos atacavam.Entretanto, no final,eu precisei mesmo sentir a derradeira aceitação,para então partir em paz.Ou talvez não fosse paz,pois paz,só de baixo da terra,então acho que seria mais correto dizer que não parti em paz,mas parti para a paz.
De certo modo,não me lembro bem se acreditava nessa máxima,mas como dizia um poeta de uma certa época que precedeu a minha,eu tinha pago a conta do analista pra nunca mais ter que saber quem eu sou.
Sem luz,apenas o recipiente.Seria romântico de mais dizer que fui com um sorriso no rosto,mas no final das contas eu fiquei um pouco satisfeito,mesmo que bem pouco,por perceber que aquela cidade não era pra mim.E parti junto com o que quer ou quem quer que estivesse atrás de mim.